12 julho 2009

Boeuf à la Bourguignone

Terça-feira, no Tutti, Cubos de filé à moda da Borgonha, um clássico da terra desta senhorita, musa e modelo de Man Ray


. KIKI E MAN RAY:

. A cozinha de Kiki

Tratava-se de um caso evidente de amor à primeira vista. Ele, um americano, novato em Paris, virtualmente sem um tostão; ela, uma borgonhesa desenraizada, um modelo vivo para pintores e uma cantora de músicas obscenas de cabaré. Ele falava um pouco de francês e ela não conhecia uma palavra sequer de inglês, mas quando a viu no interior de um café lotado, fez de tudo para ser-lhe apresentado imediatamente. Naquela noite, foram ao cinema onde segurou sua mão, e mais tarde, pediu que posasse para ele. Ela despiu-se e ele tirou algumas fotos, mas logo ficara perturbado pelo desejo. ‘Outros pensamentos vieram à tona’, escreveria mais tarde. ‘Eu disse a ela que se vestisse e fomos a um café.’

No dia seguinte, mostrou-lhe as ampliações, que agradaram tanto, a ponto de fazê-la ir para detrás de um biombo e se despir completamente. Quando reapareceu, ela sentou-se a seu lado. Man Ray registra discretamente que não tirou, naquela tarde, nenhuma fotografia. Como era tipicamente de seu feitio, Alice Prin – em seu meio conhecida como Kiki – foi mais direta: ‘De agora em diante’, escreveu, ‘ele é meu amante.’. Ela mudou-se para seu studio e ali ficou por seis anos.

(...) Ray gostava dessa vida doméstica fora dos padrões, como deixou evidente neste trecho de suas memórias:

‘Kiki descobriu um pequeno apartamento encantador, no pátio atrás dos cafés onde alguns de seus amigos pintores tinham seus ateliês... Havia aquecimento e um banheiro, o que era raro em Paris. Kiki passava a maior parte do tempo na banheira imersa em plena luxúria. Quase sempre ao chegar durante o dia, eu a encontrava num quimono ou simplesmente nua. Se eu avisava que tinha alguns amigos para almoçar ou jantar, ela saía para fazer as compras e em pouquíssimo tempo já tinha cozinhado uma refeição e posto a mesa. A comida era sempre deliciosa, bons pratos da Borgonha, muito vinho, salada e queijos escolhidos com cuidado. E à medida que nos sentávamos depois, com nossos copos de brandy, ela cantava algumas cantigas populares rabelaisianas, com uma voz clara e perfeitamente afinada, acompanhadas de gestos significativos e de sutis expressões faciais.’

A comida da Borgonha é muito parecida com a própria Kiki, que veio de lá: saborosa, animada e generosa. Este ensopado de carne, que leva o vinho de Borgonha como um de seus ingredientes, há muito é o prato mais famoso da região.”


In: RODRIGUEZ-HUNTER, Suzanne. Achados da geração perdida – receitas e anedotas da Paris dos anos 20. Rio de Janeiro: Rocco. 1999


RECEITA:

Faça dourar na manteiga em fogo médio 1kg de carne de primeira sem osso, picada em cubos de 2cm, e 250g de toucinho de porco finamente cortado. Após alguns minutos, adicione 250g de cebolas pequenas descascadas, além de 1 dente de alho picado. Cozinhe mexendo até que as cebolas estejam levemente douradas. Adicione 1 colher de sopa de purê de tomate e mexa. Salpique em seguida 3 colheres de sopa de farinha de trigo e mexa até que seja absorvida pelos ingredientes. Despeje na panela 2 xícaras de chá de vinho tinto de Borgonha, 1 e ½ xícaras de caldo de carne ou consomê, 1 folha de louro, ½ colher de chá de tomilho e mais 1 dente de alho picado. Tampe a panela e cozinhe, mexendo de vez em quando, em fogo bem baixo por 2 horas e meia. Adicione cogumelos frescos no final. Sal e pimenta a gosto.

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