"Diz que 'Nosso Senhor Jesus Cristo corria uma vez por uma estrada, fugindo dos judeus. Morria de fome e de sede, debaixo de um solão enorme. Já não aguentava mais de cansaço quando avistou um canavial. Então escondeu-se entre as suas fôlhas, refrescou do calor, descansou, chupou uns gomos e matou a fome. Ao retirar-se, estendeu as mãos sôbre as canas e as abençoou, prometendo que delas o homem haveria de tirar boa e doce.
No outro dia, à mesma hora, o diabo saiu das fornalhas do inferno, cornos chifres e o rabo queimados, galopando pela estrada foi dar no mesmo canavial. Vendo o verde das canas entendeu de refrescar e espojar-se nas fôlhas. As canas, porém, atiraram-lhe pêlos, começando êle a coçar-se.
Furioso, cortou um gomo e começou a chupar; mas o caldo estava azêdo, e caindo-lhe no gôto queimou-lhe as goelas. O diabo então danou-se e prometeu que da cana o homem haveria de tirar uma bebida tão ardente como as caldeiras do inferno.
E é por isso que a cana dá o açúcar, por causa da bênção de Nosso Senhor, e a cachaça, por causa da maldição do diabo', conforme uma lenda que Alfredo Brandão colheu em Alagoas."
In: MAIOR, Mário Solto. Cachaça. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1970. 118p
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