12 abril 2013

Limões, Cuscuz e Marzipã

 Com a retrospectiva de Matisse, no MOMA, e o orientalismo voltaram à moda. Cores ricas, quentes, perfumes e sabores. Os super-mercados estão vendendo cuscuz marroquino, semolina de grão duro, pré-cozido, e os limões de Limões e hortênsias aparecem nas feiras.

 O próprio Matisse confessou: ‘A revelação me veio do Oriente... Marrocos excitara todos os meus sentidos... Era um sonho lindo, vívido... tive vontade de expressar o êxtase, aquela preocupação divina, em ritmos correspondentes, ritmos e cores de figuras ensolaradas e generosas’.

 Mas é claro. Como é que aquele francês mais burguês, com cara de médico de província, terno preto, gravata e polainas, disciplinado, incendiaria seus quadros sem motivo justo? Como rabiscaria flores, romãs, siris, mexilhões alaranjados? E tomates azuis, palmeiras e odaliscas, se não fosse o sol, se não fosse o perfume dos limões marroquinos?

 Gosto da história que Françoise Gilot, uma das mulheres de Picasso, conta. Foram visitar Matisse e ele, com toda a naturalidade, ofereceu, num prato de porcelana, tâmaras recheadas com marzipã colorido. Foi demais até para Picasso. Tâmaras com marzipã colorido com as cores puras, alegres e inocentes do Midi, de Marrocos, de Matisse.

 Custei a descobrir como conservar esses limões amarelos e ovais, casca rugosa, típicos da Sicília e do Norte da África. Afinal, descobri. Facílimo. Você abre o vidro e pensa que abriu a loção de barbear. São cheirosos demais, carnudos, e cortados em tiras finas, dão um gosto diferente a um ensopado. Ou a um cuscuz desses que estão por aí, importados.

CONSERVA DE LIMÕES 
Paula Wolfert em Good food from Marrocos 


10 limões sicilianos; 1 xicara ou mais de sal; 
Caldo de limões, sicilianos ou não 

 Deixe os limões de molho por 3 dias em lugar fresco, mudando de água diariamente. Corte-os em 4, sem parti-los por inteiro, parando a 1cm da extremidade; polvilhe sal na parte exposta e feche-os de novo. Ponha 2 colheres de sal em um vidro e arrume os limões, uns sobre os outros, juntando mais sal entre as camadas; aperte os limões para que saltem seu suco, sem amassá-lo demais; para cobri-los junte caldo de outros limões. Deixe em lugar fresco; mexa diariamente o vidro para que o sal se espalhe homogeneamente; ficam prontos em um mês. Para usar, abra o limão, retire a polpa do segmento a ser usado e jogue-a fora, pois só se usa a casca; lave em água corrente para retirar o excesso de sal. Os limões duram um ano. Se aparecer uma película branca no vidro, retire-a (não é nociva). Use os limões como quiser, cortados em tiras finas.

in: HORTA, Nina. Não é Sopa: Crônicas e receitas de comida. São Paulo: Companhia das Letras. 1995. pág.79-80




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