O próprio Matisse confessou: ‘A revelação me veio do Oriente... Marrocos excitara todos os meus sentidos... Era um sonho lindo, vívido... tive vontade de expressar o êxtase, aquela preocupação divina, em ritmos correspondentes, ritmos e cores de figuras ensolaradas e generosas’.
Mas é claro. Como é que aquele francês mais burguês, com cara de médico de província, terno preto, gravata e polainas, disciplinado, incendiaria seus quadros sem motivo justo? Como rabiscaria flores, romãs, siris, mexilhões alaranjados? E tomates azuis, palmeiras e odaliscas, se não fosse o sol, se não fosse o perfume dos limões marroquinos?
Gosto da história que Françoise Gilot, uma das mulheres de Picasso, conta. Foram visitar Matisse e ele, com toda a naturalidade, ofereceu, num prato de porcelana, tâmaras recheadas com marzipã colorido. Foi demais até para Picasso. Tâmaras com marzipã colorido com as cores puras, alegres e inocentes do Midi, de Marrocos, de Matisse.
Custei a descobrir como conservar esses limões amarelos e ovais, casca rugosa, típicos da Sicília e do Norte da África. Afinal, descobri. Facílimo. Você abre o vidro e pensa que abriu a loção de barbear. São cheirosos demais, carnudos, e cortados em tiras finas, dão um gosto diferente a um ensopado. Ou a um cuscuz desses que estão por aí, importados.
CONSERVA DE LIMÕES
Paula Wolfert em Good food from Marrocos
10 limões sicilianos; 1 xicara ou mais de sal;
Caldo de limões, sicilianos ou não
in: HORTA, Nina. Não é Sopa: Crônicas e receitas de comida. São Paulo: Companhia das Letras. 1995. pág.79-80
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