09 maio 2009

Gogol

No dia 25 de março aconteceu em Petesburgo um fato extraordinariamente estranho. O barbeiro Ivan Iákovlievitch, residente na avenida Vosnesênski (o seu sobrenome perdera-se, e até mesmo em sua placa – onde se viam um senhor coma bochecha ensaboada e a seguinte inscrição: ‘Faz-se também sangria’ – não aparecia nada mais), o barbeiro Ivan Iákovlievitch acordou bastante cedo e sentiu o cheiro de pão quente. Soerguendo-se um pouco da cama, viu que sua esposa, uma senhora bastante respeitável e que gostava muito de tomar café, acabava de tirar os pães recém-assados do forno.
‘Hoje, Prascóvia Óssipovna, eu não tomarei café’, disse Ivan Iákovlievitch. ‘Em lugar disso, gostaria de comer pão quente com cebola. (Quer dizer, Ivan Iákovlievitch queria um e outro, mas sabia que era absolutamente impossível exigir duas coisas ao mesmo tempo, já que Prascóvia Óssipovna não gostava nada, nada daqueles caprichos).
‘Que coma o pão, o bobão; melhor pra mim’, pensou consigo mesma a esposa, ‘vai sobrar mais uma porção de café’, e jogou o pão sobre a mesa.

Gogol, Nikolai Vassilievitch. O Nariz (1835)

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