– O que quero dizer é
que a senhora vive no quarto plante a partir do Sol. Correto?
– É elementar – ela
disse, sem paciência, examinando-os com os olhos.
– E nós – apertou a mão rosada rechonchuda contra o peito –,
nós viemos da Terra. Certo, rapazes?
– Certo, senhor! – responderam, em uníssono.
– Este aqui é o planta Tyrr – ela disse. – Se vocês quiseram
usar o nome certo.
– Tyrr, Tyrr. – O capitão teve um ataque de riso. – Que nome ótimo! Mas, minha boa senhora, como é
possível a senhora falar um inglês tão perfeito?
– Não estou falando, estou pensando – ela respondeu. –
Telepatia! Bom dia! – E bateu a porta.
Um instante mais tarde, lá estava aquele homem pavoroso
batendo de novo.
Ela escancarou a porta.
O que foi agora? Perguntou-se.
O homem continuava lá, tentando sorrir, parecendo pasmado.
Estendeu as mãos.
– Acho que a senhora não entendeu...
– O quê – ela disse secamente.
O homem olhou para ela, surpreso.
– Viemos da Terra!
– Não tenho tempo – ela disse. – Tenho muito trabalho na
cozinha hoje, e ainda preciso limpar a casa e costurar. Os senhores em toda a
certeza gostariam de falar com o senhor Ttt; ele está lá em cima, no seu
escritório.
– Sim – disse o homem da Terra, confuso, piscando. – Sim,
por favor, permita-nos falar com o senhor Ttt.
– Ele está ocupado. – Ela bateu a porta na cara deles mais
uma vez.
Dessa vez, as batidas na porta foram impertinentes e altas.
– Olhe aqui! – gritou o homem quando a porta abriu de
supetão de novo. Ele pulou para dentro, como que para surpreendê-la. – Isto não
é jeito de tratar visitantes!
– O meu chão limpinho! – ela gritou – Lama! Saia daqui! Se
quiser entrar na minha casa, primeiro limpe as botas.
O homem olhou para as botas enlameadas, desconsolado.
– Agora, disse – não é hora para bobagens. Acho que deveríamos
estar comemorando. – Ficou olhando para ela durante um bom tempo, como se seu
olhar pudesse fazê-la compreender.
– Se o senhor fizer os meus pãezinhos de cristal murcharem
no forno – ela exclamou –, vou esmurra-lo com um pau! – Espiou dentro de um
forninho aceso. Voltou, vermelha, com o rosto suado. Os olhos dela eram
profundamente amarelos, a pele era de um
castanho suave. Era magra e lépida com um inseto. A voz era metálica e aguda. –
Espere aqui. Vou ver se o senhor Ttt pode recebe-lo um instante. O que deseja
falar com ele?
Nervoso, o homem praguejou, como se ela lhe tivesse dado uma
marretada na mão.
– Diga que viemos da Terra e que isso nunca aconteceu antes!
– O que nunca aconteceu? Ela ergueu a mão. – Tanto faz. Já
volto."
In: BRADBURY, Ray. As Crônicas Marcianas.
SP: Globo AS. 2005. pags 51-53
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