05 setembro 2019

Quadratura Virgem-Sagitário e a moqueca



                 Um pouco antes do próximo amanhecer a Lua em Sagitário encontra Júpiter e mira o divino. A Lua é o corpo.
                 Ao mesmo tempo, Virgem é o signo que está na cúspide da casa 2, casa do que sustenta o corpo. Marte e Mercúrio estão ali combustos, racionalidade e agressividade não estão funcionando muito bem. O trígono com Saturno domiciliado traz a paciência e a solidez. Traz secura e restrição também, mas, olhe aquela fortuna ali em Touro, conjunto à estrela fixa Menkar. Menkar pertence à constelação de Cetus, o monstro que Netuno mandou para devorar o corpo de Andrômeda; isso porque sua mãe ousou afirmar que a sua beleza era superior à das nereidas. E penso que além da racionalidade e agressividade, podemos também baixar um pouco a arrogância. A gente já pode ver no que que dá essa combinação.
                 E de olhar pra isso eu sentia a melancolia desse triângulo de terra, quando ontem em aula o Acuio foi assertivo: “Nada acontece sem a autorização da Lua”. A Lua, fazendo quadratura e antíscia com esse triângulo, liga a terra com o divino, num signo mutável que abre duas casas desse mapa: a casa 4, que fala das raízes, a casa 5, que fala das crias e criações.
                 A partir disso lembro que os rituais têm como uma das intenções “manter a ordem do que está em cima a partir da ordem que está embaixo”; mas que rituais e tradições não precisam ser estupidamente fixos. O que precisa, sim, é atenção ao que está se fazendo. Presença.

                 A moqueca que preparei para esse mapa aconteceu assim, mesmo antes de eu ter me dado conta racionalmente: escolhi a moqueca por unir tradição, por ter esse formato de camadas, que julguei ser importante, e por desconfiar ser comida oferecida a orixá e que portanto fala com o divino. Parecia tudo tão certo, e fixo. Então ela foi abrindo outros caminhos: descobri que a moqueca não tem origem diretamente africana mas muito mais forte é a semelhança com as caldeiradas portuguesas. A obrigatoriedade de camadas também foi rapidamente refutada. A receita que gostei traz detalhes que satisfazem os planetas que se vestem da Virgem pois as cozinheiras explicam a razão e melhor maneira de usar cada ingrediente. Posso dizer que existem camadas sim, mas no conteúdo e não na forma. Um dos processos importantes é chamado de “machucar”, e como isso transforma os temperos! (Quem nunca?). Mas o que seria disso tudo na panela se não fosse o jupiteriano azeite de dendê, que com o calor se expande, perfuma e deixa todo o prato com a cor quente e maravilhosa do centauro!


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