14 outubro 2019

Libra e o o banquete do regato sinuoso

               

               
                  Libra é o signo cardinal do Outono, mas a vida também é feita de cotidiano, e a gente anda pelas ruas e sente o ar mais quente, e vê muito mais cores das flores; aqui na cidade onde moro começa o perfume de flor das laranjeiras e limoeiros, e no quintal já tem uns pesseguinhos: é primavera nas ruas do hemisfério sul do planeta.
                 Apelando para a licença poética trago, d'O Cozinheiro dos Cozinheiros, livro de 1905, um texto que traz uma delicadeza tão libriana, seja na imagem das xícaras transparentes 'impelidas pela corrente do rio' quanto na pena de perder a oportunidade de declamar uma poesia para o deleite dos convivas, na brisa quente de um signo de Ar.

                 "Entre tantas, vem de molde citar, n'este sucedento livro, o banquete conhecido pelo nome Kyokusuino-Yen, ou o banquete do regato sinuoso.
                 É na primavera, quando os pecegueiros se cobrem de flores, que se dão estes banquetes e é á sombra d'esses guarda soes floridos, bordando as margens baixas dos regatos tortuosos, que os convivas se sentam, sobre a relva macia, mesmo á beira d'agua.
                 Cada um leva a sua preciosa chicara de transparente porcellana e todas, como pequeninos barquinhos de creança, são cuidadosamente postas ao de cimo d'agua a montante do sitio onde a festa tem logar.
                 Impellidas docemente pela corrente, cada conviva tem, antes que a sua chicara venha deslisar deante de si, deccompor um pequeno poema.
                 Se o estro lhe não açode incorre n'uma penalidade, e já não é pequena não concorrer com rimas ricas para o brilho do banquete, que só principia depois de lidas as poesias para as quaes se dá o assumpto no próprio momento em que as chicaras começam a regatear.

                 Estes agapes poéticos datam do tempo dos Imperadores Nintoku e Geuso, 355 e 486 annos depois de Christo. [no Japão]

                 Que Vatel, n'esta nossa velha Europa, teria sido capaz de inventar hors d'oeuvre d'um sabor mais delicado?"

Lisboa, Novembro 1904. = C. d'Arnoso.






Geleia de Pêssego  com Baunilha e Alecrim

1. preparar uma calda rala: misturar, na panela fria, 25g de açúcar e 50ml de água, acender o fogo baixo e parar de mexer até que a consistência seja mais grossa que inicialmente; acrescentar sementes de baunilha;
2. adicionar então 300g de pêssegos (sem casca) picados e suco de um limão, mexendo às vezes até obter textura de geleia. Acrescentar um pouco de alecrim picadinho.

foto da Lidia Ueta, que leva uns tantos planetas na Balança

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