18 março 2020
Parmentier
"A invenção não nasce apenas do luxo e do poder, mas também da necessidade e da pobreza - e esse é, no fundo, o fascínio da história alimentar; descobrir como os homens, com o trabalho e com a fantasia, procuraram transformar as mordidas da fome e as angústias da penúria em potenciais oportunidades de prazer."
(Montanari)
A Lua, exilada mas nutrida do trígono com a Vênus domiciliada nas potenciais oportunidades de prazer encontra a necessidade, a pobreza, a guerra. Escolhi esse momento exato de conjunção com Júpiter pra contarmos - Lua exilada, Júpiter em queda, Mercúrio exilado e em queda e Tom Standage (autor de Uma história comestível da humanidade) e eu - uma história bastante impressionante sobre a Batata, que era domiciliada e exaltada na América, cultivada principalmente pelos Incas até que se viu na Europa, exilada, em queda, desmoralizada, foi acusada inclusive de transmitir lepra, tuberculose, e várias outras injúrias.
Assim foi até que, na Guerra dos Sete Anos, o cientista Antoine-Augustin Parmentier foi capturado pelos prussianos, passou três anos na prisão, e durante grande parte desse tempo só lhe deram batatas para comer. Quando a guerra terminou e ele voltou à França, tornou-se um eloquente defensor da batata. Em 1770 foi oferecido um prêmio para o melhor ensaio sobre gêneros alimentícios capazes de reduzir as calamidades da fome; Parmentier foi o vencedor, com um elogio às batatas. Embora ainda houvesse uma crença generalizada de que elas eram venenosas e podiam causar doenças, em 1771 Parmentier ganhou o respaldo do corpo docente médico da Sorbonne, que decidiu que a batata era realmente apropriada para o consumo humano. Pouco depois, Parmentier publicou uma detalhada análise científica dos méritos daquele alimento. Mas o apoio em meio à comunidade científica era uma coisa; após anos de esforço, Parmentier descobriu que convencer as pessoas a cultivar e a comer batatas era outra muito diferente."
Isso contou Júpiter à Lua. E continuam a conversa, com o perfume venusiano que insiste em vir pelo trígono.
"Diante disso, ele organizou uma série de eventos publicitários. Em 1785, num banquete para celebrar o aniversário de Luís XVI, Parmentier presenteou o rei e a rainha com um buquê de flores de batata; o rei prendeu uma das flores na lapela e Maria Antonieta pôs uma guirlanda delas no cabelo. Quando os convidados se sentaram para comer, vários dos pratos incluíam batatas. Com o endosso do rei e da rainha, comer batatas e usar flores dessa planta logo se tornaram moda na aristocracia. Parmentier também promoveu ele mesmo vários jantares, servindo batatas preparadas numa variedade de maneiras para enfatizar sua versatilidade. (O estadista e cientista americano Benjamin Franklin estava entre as celebridades convidadas para esses eventos.)" lembra Saturno atento às raízes do poder.
Agora entra Mercúrio, que está em Peixes mas com os pés no chão:
"O melhor truque de Parmentier, contudo, foi postar guardas armados em torno dos campos próximos de Paris, dados a ele pelo rei, em que cultivava batatas. Isso despertou o interesse dos moradores das vizinhanças, que perguntavam a si mesmos que planta valiosa poderia requerer tais medidas de segurança. Quando uma safra ficou madura, Parmentier mandou os guardas se afastarem; a gente do lugar invadiu o campo correndo e roubou as batatas."
"Quando a hostilidade em relação ao tubérculo finalmente se dissipou, consta que o rei teria dito a Parmentier: A França lhe agradecerá algum dia por ter encontrado pão para os pobres. Foi somente alguns anos mais tarde, depois da Revolução Francesa (durante a qual Luís XVI e Maria Antonieta foram guilhotinados), que a previsão do rei se confirmou. Em 1802, Napoleão Bonaparte instituiu a ordem da Légion d'Honneur, e Parmentier foi um dos primeiros a recebê-la. O serviço que prestou à batata é lembrado hoje na forma de vários pratos baseados em batata que levam seu nome." Completa a Lua.
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