12 dezembro 2019

Lua em Câncer

                 Vim em casa pensando que ia relaxar na banheira, em paz e silêncio. Mas mal cheguei, nem bem fechei a porta e já dei de cara com Júpiter, por oposição. Quando entro no meu domicílio, exalto Júpiter, exalto mesmo! Mas que tristeza vê-lo em queda, ressequido, resfriado, parece ter envelhecido uns 30 anos desde que passei por ele numa conjunção no último grau de sagitário há duas semanas. Que coisas terríveis ele diz hoje! Como isso magoa...!
                 Mas devo me recompor. Logo encontrarei Marte. Tenso. É um trígono, Marte está muito bem dignificado, não tem por quê ficar briguento como são os covardes, mas é sempre tenso, sempre dói um tanto. Eu já sei, ele vai dizer que é preciso trocar de casca, que é preciso largar peso inútil, levar o mínimo possível, que o carregar tralhas pode até comprometer a minha sobrevivência. Mas como sobreviveria se não tivesse o passado para me animar, me mostrar minhas raízes? Bem, talvez seja um bom momento para uma conversa dessa, estou mesmo me sentindo um tiquinho mais prática, melancólica, desde que vi o sol bem de frente. Não faz nem um dia mas começo a perder a luz que tomei dele, sei que não posso mantê-la por muito tempo, é sempre assim.
                 Dito e feito! Senhor Marte-paranoia disse que vê por sextil que ainda encontrarei oposições fortes em Capricórnio. Que Vênus foi subjugada por Saturno; que começa a se afastar dele, mas quando nos encontrarmos, eu e ela, ela ainda estará péssima, machucada e amarga, como estava Júpiter. Pobres benéficos dispostos por Saturno.
                 Mesmo que eu passe muito rápido por todos os territórios e eventos, acabo absorvendo isso tudo, não posso evitar. Mas ao contrário do que diz Marte, não abandonarei nada do meu amado mangue, ao contrário, vou me nutrir, saberei cuidar bem de mim.



                 E como eu me nutro e cuido bem de mim? Com memórias! 
                 Se estou na minha casa Carangueja então, mergulho mesmo! Hoje é quinta feira, dia de Júpiter, e dia de #tbt

17 FEVEREIRO 2016

Natureza Morta


Mais uma vez peguei carona no tema do desenho da semana, e não é por menos. A princípio tinha feito minha natureza morta bem quietinha, bem simples indie-folk (que mesmo assim levou horas para ficar pronta), e apesar de não estar uma maravilha, fiquei bem feliz, combina com o clima onde estou inserida, especialmente hoje que teve um momento pinheiros com nuvens fofas e tudo se encaixou.





Porém há alguns dias T me disse que queria ver meu desenho dessa semana, e o menu. Eu até respondi que não tinha pensado em comida, mas fiquei com a pulga atrás da orelha porque afinal de contas, é um tema incrível para um prato!
A primeira questão que me veio foi a do espaço: o espaço em natureza morta é o espaço limitado, a composição ali sujeita à vontade do pintor, ao contrario da paisagem, em que o pintor está inserido. E o prato, a louça está por sua vez dentro daquele espaço limitado; e aqui a ideia é abrir esse espaço de dentro desse prato, e tentar englobar tudo: um problema espacial delicioso!
Num espaço limitado dentro de um ateliê, a luz também pode ser controlada, assim pode-se dizer que o tempo também se torna controlável, o que já me fez pensar em conservas. Por isso gosto bem mais do termo still life; e se estou lidando com culinária, parece pertinente pensar assim. Certamente, pensar em alimento, que é perecível,  e que alimenta um corpo também perecível leva à consideração das vanitas, mas, de qualquer forma, não está tudo ligado?
E o que mais trazer pra alimentar esse menu? Aves e coelhos mortos não, obrigada. Penso em maçãs, aspargos, repolho, uvas e fico um tempo lamentando não morar em um lugar que tenha as aspargos em abundância. E penso que os alimentos retratados provavelmente eram os que o pintor tinha à mão, e decido fazer a mesma coisa – como sempre aliás.
Começo pelas uvas pelo seu simbolismo de contato com o divino e já, como numa epifania, penso em fazer um preparo clássico da minha cidade nova e como poucas vezes acontece, veio quase tudo pronto na minha cabeça: aluske de tatarka com cogumelos. O cogumelo nesse contexto se encarrega do simbolismo vanitas: é tão delicado, tão perecível, e já pertence a outro reino. Para a conserva, que já queria, resolvi confitar as uvas com tomatinhos cereja. E assim foi, praticamente sem alterações.



Para o recheio do aluske:
- lavar ½  xícara de tatarka inteira. Tatarka é trigo sarraceno.
- lavar ¼  xícara de arroz branco
- refogar uma cebola pequena bem picadinha, adicionar 3 dentes de alho picados, 10 grãos de pimenta branca e 5 de pimenta preta moídos na faca. A seguir juntar os grãos e temperar com sal. Adicionar água quente e cozinhar.
- Na hora de rechear os aluskes, adicionar bastante cebolinha picada.

- Para o aluske: retirar o talo de um repolho, cavocando com uma faquinha. Colocar para cozinhar em uma panela grande com água já fervente. Não deixar cozinhar demais.
- Escorrer e desfolhar. Com uma faquinha, cortar longitudinalmente o excesso dos talos de modo que a folha fique “plana”
- colocar o recheio e enrolar como charuto, dobrando as laterais também.

Acompanhamento 1:
- saltear em azeite de oliva tomatinhos cereja e uvas soltas. Temperar com sal.
A ideia inicial era confitar em imersão de azeite de oliva, mas acabei optando por uma versão mais econômica.

Acompanhamento 2:
- os cogumelos são simplesmente salteados em fogo alto até ficarem al dente e então temperados com sal.


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